na volta do trabalho

hoje voltando do trabalho eu levei um belo cagaco. bom, nem foi nada muito power, foi so' um cagacinho light, mas todo cagaco merece um certo respeito por mexer com coisas tao intimas como as cuecas de um homem.

morar em londres e' um misto de curticao, descoberta, nojo e medo, tudo ao mesmo tempo. tipo, a curticao e a descoberta sao por estar num lugar completamente fora da realidade (em varios sentidos, mas principalmente por ser um lugar cheio e movimentado o tempo todo), e o nojo e o medo por estar no meio desse caldeirao macabro de gente sem criterios. basicamente estou me referindo a todos os doidos, bebados, tarados, homens-bomba, vagabundos e chavs em geral. como as quantidades de gente categorizadas nesses estereotipos sao (obviamente) muito grandes, a cidade vive num clima semi-constante de "deu merda" ali adiante. a maioria das pessoas nao ta' nem ai pra porra nenhuma, mas basta olhar pro lado pra se ver que nem tudo sao rosas. e' como chegar na porta da estacao e tem uma plaquinha dizendo: "fechado porque achamos uma mala suspeita sem dono". ninguem pensa "ó meu deus, poderia ser uma bomba!" mas sim "droga, o pub vai fechar e eu aqui sem trem!". sendo assim, sempre se ve policia, cachorro (farejador, alem dos outros normais, conhecidos como *cachorro de passeio*), cameras de vigilancia (londres e' a cidade mais vigiada do mundo com mais de 14 mil cameras *publicas* externas) e turista pra todo lado.

nesse meio todo, hoje, eu, trabalhador, honesto, brasileiro, mas honesto, entro na estacao de canary wharf e vejo que vou ser recebido diretamente pela policia. e' o pesadelo de qualquer imigrante brasileiro ilegal: subir as escadas rolantes e' anunciar que ta' enrolado, descer e passar pela fiscalizacao randomica e' um teste cardiaco, passar pelos cachorros farejadores de drogas e' mostrar que nao tomar banho realmente faz bem pra pele. eu, brasileiro preto ilegal vagabundo e drogado, num dia de 15 graus, entrando com uma jaquetona de zero graus e acompanhado por uma mochila ala' homem-bomba seria um excelente alvo, penso. mas por incrivel que pareca, nao fui parado dessa vez. imaginei: devem saber que eu sou brasileiro e estao vindo atras de mim... caminhei calmamente ate' a roleta, saquei meu oyster, passei calmamente dando tempo que a camera virasse pra mim e me filmasse (era so' pra garantia ja' que nao se sabe se o jean de menezes tambem pagou pelo ticket). dali em diante, nao corri pro trem como usual. caminhei e deixei as pessoas me passarem. quando desco a proxima escada, mais policia na plataforma. entao e' assim! os fiadaspulta deixaram eu entrar pra trancar a saida caso eu voltasse correndo! tudo bem, continuarei indo! mas na plataforma ninguem fez nada tambem. olhei pros lados, esperei alguem descer da escada rolante, pular de traz de alguma coisa com uma arma na mao, mas nada. dai lembrei: devem estar tentando criar um modelo de brasileiro-bomba, todos entram correndo no trem, entao matam eles dentro do trem...

chegou o trem. nao entrei. esperei alguem falar alguma coisa, correria, gritos, mas nada. muito estranho. os policiais da plataforma sumiram. acho que entraram no trem e foram embora. ah, entao beleza, acharam outro brasileiro pra encher o saco :)
peguei meu livro e fui ler. chegou o proximo trem, nada de correria ou tiros, entrei. o trem nao se mexeu. eu estava bem perto da porta. fiquei com um braco pra cima pro caso de aparecer alguem, bastava levantar so' um braco, 50% mais rapido de me entregar. passados alguns minutos o trem fechou as portas e comecou a andar. sera' que era isso mesmo? olhei pra um lado, outro, nada. ufa, foi so' um cagaco, nada demais. em canning town nao vai dar nada, la' eu to em casa, pensei com meus botoes. mas de qualquer forma, nao vou mais ler esse livro no metro. ler a autobiografia de um criminoso de carreira ingles nao deve ajudar muito no meu caso.