domingo, outubro 22, 2006

a novela da vida real: primeiro capitulo

uma coisa que eu sinto saudade do brasil e' morar em casa normal. vida em londres -- a cidade mais cara do mundo -- e' um porre, morar sozinho e' caro, morar dividindo casa e' um inferno. no inicio da vida no exterior as pessoas tendem a se misturar com outras pessoas da mesma raca, brasileiros moram com brasileiros, italianos com italianos, sul africanos com sul africanos. depois de um tempo, existe uma tendencia a se misturar tudo pra ver a infelicidade que pode ser morar 1º) com gente que tu nao conhece; 2º) com gente de uma cultura diferente e 3º) gente burra e sem nocao, tudo pra querer morar sozinho e pagar o preco. no atual momento eu e a patroa vivemos no estagio do arrependimento por dividir casa com desconhecidos.

quase sempre as unioes de contencoes de gastos com moradia em londres comecam a quebrar com um problema comum: o ataque a comida dos outros. eu nao sei qual a necessidade de se atacar a comida dos outros, mas isso inevitavelmente acontece com todo mundo, seja atacante ou seja atacado, e geralmente as coisas acabam com gente se mudando pra comecar tudo de novo numa outra casa, com gente desconhecida e racas que nao se fecham muito. ate' mesmo gente do mesmo pais nao se fecha, e' so' pensar num nordestino comendo carne de sol e um paulista comendo feijao. nem sempre da' certo.

eu tive minhas proprias experiencias dividindo casa com gente aleatoria antes da patroa chegar do brasil (duas casas na verdade). na primeira eu nao tinha geladeira nem panela nem prato nem garfo, eramos uns 11 estrangeiros morando sob o mesmo teto e apenas um frigobar pra todo mundo. obviamente nao tinha espaco pra por comida, e qual a razao de por comida se nao tinha nem mesmo como cozinhar? nao que eu soubesse fazer nada alem de ovo cozido, mas enfim. nessa casa eu fui atacante. sim, eu roubei suco de alguem que eu nao sei quem era, tomei no bico mesmo e devolvi a garrafa na mesma hora. foi questao de necessidade, nessa epoca eu ja' tomava agua da torneira de tanta sede/fome que eu passava. na segunda casa a coisa era melhorzinha, era um bando de brasileiros e tinhamos frigobar no quarto, mas freezer era comunitario, e varias vezes deu rolo de roubarem comida dos outros (eu nao mantinha comida congelada).

a maior briga nessa casa (alem da gente tentar fazer uma bixinha paulista parar de contar publicamente suas peripecias sexuais e tentar convencer todos caras da casa de que era bom queimar a rosca) era quanto a limpeza. a ideia e' de que cada um lave a sua propria louca, e geralmente existe uma rota de faxina onde se limpa as partes comuns da casa. porem varias vezes eu lavei louca dos outros. uma vez uma guria de maceio' perguntou porque eu estava lavando louca que nao era minha. bem, nao era por diversao nem por prazer, entao eu respondi que ao menos assim teria certeza de que estaria limpa se eu precisasse. obviamente a minha vontade era dizer pra ela "porque? quer lavar tu mesma?", mas aparentemente o recado funcionou, e ela tambem comecou a lavar loucas aleatorias que todos sabiam que era o bixinha que deixava. nunca era muita coisa, entao eu nunca me importei muito.

mas eu sei de varias historias quanto a roubo de comida que acabaram em sangue. quando dividimos com outros brasileiros, o stress nao era grande, tinhamos nosso espaco e eramos razoavelmente respeitados. toda vez que alguma coisa saia errado era meramente provocacao. portanto, roubo nao tinha necessariamente acontecido com a gente ate' entao ja' que geralmente pagamos mais caro mas moramos sozinhos.

eis que o outro dia (uma das vezes que o namoradinho do sul africano dormiu aqui, falando nisso o cara ja' dormiu aqui umas 3 vezes, e nao me venham com papinho de que isso e' amizade forte), verifiquei meu sabao liquido na hora do banho e achei meio vazio. no dia seguinte, olhei o pote e constatei que o sabao havia sido completamente esvaziado e nao estava no mesmo lugar que eu deixei. "mule', tu usou o sabonete liquido?" -- "nao". pronto, haviamos sido claramente roubados. tudo bem, ignorei o fato, e' so' um sabaozinho mesmo. descemos e fomos fazer cafe'. o namoradinho do sul africano entrou no banho. o viadinho tava na cozinha. cafe' feito, peguei o pote do acucar. vazio...

"mule', tu acabou com o acucar e nao repos?" -- "nao". pronto, roubo numero dois em evidencia. nisso o cara tenta dar uma de amiguinho e diz: "NÓS nao temos mais acucar? precisaMOS comprar acucar... qual acucar que A GENTE gosta?"... puta que paril, nessa hora eu fiquei pensando: se eu mandar esse fiadapulta a merda, a patroa vai me xingar, se eu nao falar nada, ele vai se passar de novo.. e ficou todo mundo sem falar nada por uns 10 segundos, pensando "xingo esse merda ou nao xingo". na cabeca sem nocao dele certamente se passava "eles tao decidindo se gostam de acucar branco ou acucar marrom".

claro que tudo isso nao e' por um punhado de acucar, e' sim pela invasao do nosso armario e terminar com o nosso acucar, e tudo sem nem mesmo pedir ou desculpar ou repor, e como se nao bastasse ainda achar que a porra do acucar e' NOSSO. sim, e' nosso, meu e da minha patroa, ninguem mais.

sei que acabou nisso, ninguem respondeu nada, o viado roubou o acucar e saiu impune. com o passar do tempo, conversando com a patroa, decidimos que alguma coisa tinha que ser feita. eu disse: "vamos amarrar ele e encher de porrada". achamos a ideia boa, mas ninguem queria por a mao nele porque a gente tem nojo. decidimos por arrumar nossas coisas de uma forma que so' a gente soubesse como estava, qualquer pessoa que mexesse deixaria baguncado.

domingo pela manha, olhamos o armario e constatamos: passaram por aqui novamente. roubarem uma vez eu ate' entendo e perdoo, duas vezes ja' e' motivo pra capar o cara (se bem que pra ele nao faria diferenca ja' que ele nao usa mesmo), mas tres vezes e' demais. decidimos por deixar um bilhete bem desaforado dentro do armario, pois quem abrir o armario e ler o bilhete mereceu. o armario nao e' pra ser aberto, portanto quem se ofender foi realmente meter a mao no que nao devia. e aproveitando que o inglesinho que nao toma banho estava chegando na cozinha, ja' emendei ele na conversa. - tu sabe se o namoradinho do cara dormiu aqui de novo? - e', nao sei, acho que sim, blablabla. expliquei a situacao pra ele e ele aparentemente concordou. claro que eu maqueei um pouco pra nao ficar uma acusacao direta, ate' porque nao tenho certeza se foi o proprio ingles, o sul africano ou o namorado. mas de qualquer forma nao se mexe nas coisas dos outros, private e' private, you bastard.

e que essa gente fique longe do meu sucrilhos tambem. de qualquer forma ja' estou baixando o programinha pra fazer a webcam de seguranca (o mesmo que a gente flagrou o brasileirinho aquele entrando e fucando nas nossas coisas quando a gente nao tava la'). mais updates quanto a saga da vida em sociedade em breve, quando eu souber mais detalhes sobre tudo isso.

flw

[UPDATE]
acabo de ficar sabendo que o namoradinho do sul africano ta' escondido no quarto. nem precisava me dizer, eu sou magico e ja' tinha adivinhado..
[/UPDATE]

2 comentários:

Rafa disse...

Bah que merda, faz o seguinte pega um açucar e mistura com uns remédios laxantes em pó, com um pouco de veneno de rato, apenas o suficiente pra fazer um mal nas tripas do vagabundo, e guarda o açucar de uso de vocês junto na mala, bem fechado !

dns disse...

ta' louco?! eu e a patroa combinamos de nao trocar o lixo do banheiro pq ninguem faz nada! se ja' ta' ha' duas semanas, imagina como vai ser se o cara tiver dor de barriga?!?!!?

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